Dom Juventino Kestering
“Pois a Palavra de Deus é viva,
eficaz e mais penetrante que qualquer espada de dois gumes. Penetra até dividir
alma e espírito, articulações e medulas. Julga os pensamentos e as intenções do
coração” (Hebreus 4,12).
Esta frase da carta aos Hebreus inclui duas palavras dinâmicas e
sempre atuais: “viva” e “eficaz”. Neste 1º Congresso Brasileiro de
Animação Bíblica da Pastoral, falar de “Pastoral na vida da Igreja: uma nova
compreensão de Pastoral num mundo em mudança” é resgatar e atualizar a dinâmica
da pastoral para que ela seja “viva e eficaz”. Viva para responder aos anseios, às buscas, às necessidades dos
homens e das mulheres de hoje. Eficaz
porque o homem e a mulher modernos já não suportam algo que não tem significado
e nem se sente atraído a aquilo que não é eficaz. É claro que a pastoral não é
a soma de resultados mensuráveis como o lucro de um empreendimento, onde a
satisfação, a recompensa, a auto-estima e a projeção são balizas para as
pessoas no mercado de trabalho. Porem, não se pode envolver pessoas, tempo e
recursos em projetos que não tem significado para a vida e gera um certo grau
de satisfação.
1. A Palavra na experiência de Israel.
A Palavra é a experiência vivida pelo povo de Israel de que Deus é
‘amor fiel’ (1Cor 1,9). Que está presente desde a origem até o cumprimento
total das suas promessas: quando ‘Deus será tudo em todos’ (1Cor 15,28). A
Palavra contem as respostas do povo às ações e propostas de Deus. Acolhendo sua
aliança, outras vezes entrando por caminhos errados. Mas Deus nunca abandona
seu povo. E, por isso, envia seu Filho como Palavra
Viva e Eficaz, para realizar suas promessas. A Palavra de Deus é
Jesus: caminho, verdade e vida (Jo 14,6). O Caminho verdadeiro nos leva à Vida
(LG 2)
.
Ao se apresentar como Caminho Jesus resume as dimensões inseparáveis da
Palavra: presença e dons de Deus às pessoas para que convivam como filhos e
irmãos, e realizem um mundo novo, justo e fraterno. São Paulo assim resume sua
experiência de contato com a Palavra: “Muita vezes e de muitos modos, Deus
falou outrora aos nossos pais, pelos profetas. Nestes dias, que são os últimos,
falou-nos por meio de seu Filho...” (Hb 1,1-2). “Nós mesmos não deixamos de
falar daquilo que vimos e ouvimos” (At 4,20).
2. A dinâmica da Pastoral.
A pastoral requer, nos tempos atuais, uma dinâmica que atinja a pessoa
na sua dimensão humana, na sua vida, em algo que significa e faz vibrar pelo
Reino. Além vida pessoal, a pastoral haverá de ajudar a pessoa a realizar a
plenitude da vida, em comunhão, colaboração e co-responsabilidade com todas as
outras pessoas e trabalhar por uma “vida em plenitude” para todos.
A pastoral tem por objetivo ‘evangelizar’,
‘pastorear’, ‘ensinar os caminhos do Senhor’, ‘fazer meus discípulos’ (Mt
28,19) e dar vida. Disse Jesus “Eu vim para que
tenham vida, e a tenham em abundancia” (Jo 10,10).
O papa Bento XVI lembra que o encontro com Jesus é o
ponto de partida fundamental da experiência cristã. E esclarece: “Não se começa
a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas através do
encontro com um acontecimento, com uma pessoa, que dá um novo horizonte à vida,
e com isso, uma orientação decisiva” (D.A 243)
.
Para conseguir esse objetivo, não bastam técnicas,
planejamento, boa vontade e entusiasmo. Ninguém conhece a Deus, se ele não se
revela e se comunica. Ele, de fato, se revelou por meio de ações e palavras (DV
2)
;
de maneira especial,
em
Jesus Cristo; e se comunica para ‘que todos sejam salvos e
cheguem ao conhecimento da verdade’ (1Tim 2,4).
A pastoral tem como base a Palavra de Deus, e não qualquer outra
palavra. Uma pastoral que acolhe a Palavra, se deixa iluminar por ela e a põe em prática. A Palavra
não é apenas um conteúdo doutrinal a ser apreendido e memorizado, mas uma
‘prática’, uma experiência de vida, um estilo de vida. A Palavra ilumina a
caminhada, corrige erros e desvios e cria esperança de muitos frutos. Não se
trata de uma palavra inventada ou fruto de erudição, mas como diz São João “O
que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos para que estejais em comunhão conosco.
E a nossa comunhão é como Pai e com seu Filho, Jesus Cristo” (1Jo 1,3), pois
“aprove a Deus, e em sua bondade e sabedoria revelar-Se a Si mesmo e tornar
conhecido o mistério de Sua vontade” (DV 2).
“Graças a este sentido da fé, que é suscitado e amparado pelo Espírito
de verdade, o povo de Deus, sob a
orientação do sagrado Magistério e na fiel obediência ao mesmo, recebe, não uma palavra humana, mas
verdadeiramente o que ela é, a Palavra de Deus, adere indefectivelmente à fé, transmitida aos santos de uma vez
para sempre, penetra-a mais
profundamente e convenientemente, e
transpõe-se para à vida com maior intensidade” (cf LG 12). São Paulo assim
escreve: “Agradecemos a Deus sem cessar, porque, ao receberdes a Palavra de
Deus que ouvistes de nós, vós a recebestes não como palavra humana, mas como o
que ela de fato é: Palavra de Deus, que age em vós que acreditais (1Ts 2,13).
3. Por uma pastoral que acolha a Palavra,
se deixe iluminar por ela e a põe em prática.
A conversão pessoal e a conversão pastoral. O encontro com Jesus
Cristo nos leva à conversão, a sermos discípulos, a viver em comunidade e ao
compromisso com a realização eficaz do Reino de Deus. A conversão pedida por
Jesus é ‘convertei-vos e crede no evangelho’ (cf Mt 4,17). Não é apenas uma
mudança moral ou de algumas práticas religiosas, mas é uma ‘mudança de
mentalidade’, uma ‘vida nova’, reorientação de critérios, valores, decisões e
compromissos de vida. As pessoas que acolhem a ‘boa nova’ do Reino, seguem
Jesus, estão com ele, e vêem seus atos, ouvem seus ensinamentos e com a vinda
do Espírito Santo, começam a viver unidos num só coração e numa só alma, como
filhos de Deus e irmãos (cf At 2,42-46).
Muito já se falou e escreveu sobre a necessidade de desinstalação do
comodismo e do estancamento da Igreja. “A Igreja necessita de forte comoção que
a impeça de se instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença, à
margem do sofrimento dos pobres do continente. Daí o desafio da conversão
pessoal, pastoral e estrutural, a fim de chegarmos à prática de uma Igreja
missionária (D.A 362).
Tudo isso depende da renovação das estruturas eclesiais e da passagem
de uma pastoral de mera conservação para uma ação decididamente missionária
(D.A 365-366. 370), renovando as paróquias, as pastorais e os movimentos
eclesiais (D.A 172-173), articulando pequenas comunidades, promovendo a
espiritualidade de comunhão na Igreja, o serviço aos pobres e mobilizando a
todos à missão, sobretudo os leigos (D.A 307-310. 372). Assim superar a
pastoral de mera conservação e partir para uma pastoral decididamente
missionária.
Nesta perspectiva, a Palavra de Deus abre caminhos e aponta luzes.
Mais ainda, a Palavra de Deus é luz, conteúdo, exemplo, caminho e estilo de
realização da pastoral. Ela vai proporcionar aos fiéis a experiência cristã
fundamental: somos filhos/filhas de Deus, que é Pai; e somos irmãs/irmãos.
Um primeiro passo da pastoral que se fundamenta na Palavra de Deus
seja iluminada por ela, será conhecer a Palavra e acolhe-la “Assim a Igreja, na
sua doutrina, vida e culto perpetua e
transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela própria é e tudo quanto
ela acredita. Com efeito, cresce o conhecimento tantos das coisas como das
Palavras que constituem parte da Tradição, quer mercê da contemplação e do estudo dos crentes que a meditam no seu coração, quer mercê da íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer
mercê da pregação daqueles que, com a
sucessão do episcopado, receberam um seguro carisma da verdade. Isto é, a Igreja, no decurso dos séculos, caminha continuamente para a plenitude da
verdade divina, até que se cumpram
nela as palavras de Deus” (cf. DV
8).
O conhecimento que faz a
Palavra ser vida, orante, alimento, sustento e fundamento da ação pastoral.
Nessa perspectiva acolher a Palavra é torná-la luz no agir, no planejar, nas
ações e no cotidiano. Essa Palavra merece ser acolhida, pois é Palavra de
Mistério. Bento XVI afirma: “Quando vamos receber o mistério eucarístico, se
cair uma migalha sentimo-nos perdidos. E quando estamos a escutar a Palavra de
Deus e nos é derramada nos ouvidos a Palavra de Deus que é carne de Cristo e
seu sangue, se nos distraímos com outra coisa, não incorremos em grande
perigo”? (VD 56)
.
4. Onde buscar as luzes para uma Animação
Bíblica da Pastoral?
Primeiramente na Palavra de Deus. Não como um livro, mas como relato
de experiências vividas por um povo que crê no Deus único na busca de sua
identidade e do seu caminho. Em Jesus esta Palavra se faz gente, Palavra
encarnada na realidade. E Jesus se posicionou com uma novidade: estar aos lados
dos pequenos, anunciar o Reino, experienciar o amor-serviço: tornou-se
semelhante / irmão dos mais ‘perdidos’ (cf. Mt 18,11; Fil 2,6).
Ser seguidores/discípulos/as de Jesus leva aos primeiros cristãos a
viver em comunidade, em intimidade com Ele, formando um ‘só corpo e uma só
alma’ (cf. At 4,32s). E a empenhar-se na realização do Reino, realizar a missão
no caminho da vida.
É na eclesiologia do Concílio Vaticano II, continuada nas Conferencias
do Conselho Episcopal Latino Americano (CELAM) e das Diretrizes da Ação
Evangelizadora da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que a
Animação Bíblica da Pastoral busca a sua força.
O Papa Bento XVI na Exortação pós-sinodal “Verbum Domini” assim se
expressa: “A Constituição Dogmático Dei Verbum começa com estes termos: O
sagrado Concílio ouvindo religiosamente a Palavra de Deus e proclamando-a com
confiança... A igreja: essa é uma comunidade que escuta e anuncia a Palavra de
Deus. A Igreja não vive de si mesma, mas do Evangelho, e do Evangelho tira, sem
cessar orientações para seu caminho” (VD 51).
Falar em renovação pastoral necessariamente exige adentrar na
eclesiologia de participação, em todos os níveis; pensar em paróquias
descentralizadas e missionárias, onde os leigos e as leigas, junto com seus
pastores, realizam sua vocação. Colaboram com os sucessores dos Apóstolos e se
responsabilizam pela missão encomendada por Deus. Isto requer uma eclesiologia
que vem sendo trabalhada desde o Concílio Vaticano II e continuado em inúmeros
documentos do Magistério:
- Igreja que trabalhe pelas pessoas para recuperar a dignidade de
criaturas amadas por Deus e tornadas filhos/as em Jesus Cristo.
- Igreja que se empenhe em criar comunidades vivas, que vivam a
partilha e se organizem e articulem para viver uma vida plena de comunhão de
irmãos entre si e comunhão com o Pai,
- Igreja que se comprometa com a missão em prol de uma sociedade justa
e fraterna, onde os pobres tenham seu lugar como sujeito,
- Igreja comunidade reunida pela união do Pai, do Filho e do Espírito
Santo,
- Igreja que na sua vida, no seu culto e na sua pregação seja a
comunhão dos “testemunhos de Jesus”!
- Igreja onde as instituições, doutrinas, leis, disciplinas, normas,
orientações...visem ajudar a vivenciar as experiência fundamentais da vida
cristã. Isto exige que:
A Igreja comunidade seja samaritana, que se aproxima, está atenta e
age diante das “alegrias e esperanças, tristezas e angústias dos homens e
mulheres de hoje”. Assim se torne Igreja comunidade sacramental, que é “sinal e
instrumento da comunhão dos homens com
Deus e da união do gênero humano”. Isto a torna Igreja que vive a Palavra no
dia a dia, celebra o culto, e ensina a praticar a Palavra de Deus.
A Palavra de Deus aponta para Igreja ministerial, não como concessão
ou suplência da falta de padres, mas como vocação que brota do batismo. Faz
repensar o sentido de pertença à Igreja, num mundo em mutação, com nova
compreensão de proximidade. Indica a primazia do serviço, em especial aos mais
pobres e a superação do poder como forma de centralização, para uma Igreja
servidora e ministerial.
Numa visão clara, incentivadora da missionariedade e de visão da
pessoa humana a “pastoral da Igreja não pode prescindir do contexto histórico
onde vivem as pessoas pois sua vida acontece em contextos sócio-culturais bem
concretos” (D.A 367).
5. As intuições das Diretrizes da CNBB
As Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011-2015
afirmam
que “mudanças de época são, de fato, tempos desnorteadores, pois afetam os
critérios de compreensão, os valores mais profundos, a partir dos quais se
afirmam identidades e se estabelecem ações e relações” (20). A esses e outros
desafios a CNBB propôs cinco perspectivas para o quadriênio 2011-2015:
5.1. Igreja em estado
permanente de missão. “A própria comunidade cristã precisa ser ela mesma
anúncio, pois o mensageiro é também Mensagem” (76). Nasce uma nova visão de ser
batizado e ser cristão: a passagem, já insistida no Concilio Vaticano II, do
cristão batizado e com algumas práticas religiosas para o cristão missionário.
Essa é uma prospectiva que estará presente hoje e estará nas décadas vindouras.
E a Palavra de Deus será lida, proclamada e vivenciada no coração dos que
aderem a Jesus Cristo.
5.2. Igreja: casa da iniciação
cristã. Trata-se de um itinerário evangelizador e catequético permanente.
“A inspiração bíblica, catequética e litúrgica é condição fundamental para a
Iniciação à Vida Cristã de adultos, jovens e crianças”. Neste processo de
Iniciação à Vida Cristã, a formação, os encontros, os momentos celebrativos, os
ritos, os símbolos, o mistério vivido e celebrado supera a mentalidade dos
“cursos”. Adentra numa pastoral que integra a experiência do encontro com Jesus
Cristo, a vivencia comunitária, a participação e celebração. Busca a interação
com os Meios de Comunicação, a inserção nas diferentes atividades pastorais e
espaços de capacitação, a evangelização, as pastorais, movimentos eclesiais e
associações (cf 91). A Iniciação à Vida Cristã é mudança para um novo modelo
pastoral e evangelizador. Torna a evangelização e a pastoral mais próxima das
pessoas e suas situações. As pessoas deixam de ser objeto da ação pastoral e
passam a serem interlocutores, sujeitos da experiência de fé e do serviço aos
irmãos.
5.3. Igreja: lugar da Animação Bíblica da vida e da pastoral. Essa
talvez seja a novidade que aponta para um novo horizonte. “As pessoas sejam
agentes deste contato vivo, apaixonado e comprometido com a Palavra de Deus.
Assim como toda a Igreja, todos os serviços eclesiais precisam estar
fundamentados na Palavra de Deus e serem por ela iluminados” (92), com a
“pedagogia para iniciar e manter contato permanente com a Escritura através de
fortalecimentos de equipes de animação bíblica e a iluminação bíblica de toda
pastoral (94); com o fortalecimento dos grupos bíblicos, grupos de família e de
pequenas comunidades em torno da leitura orante, meditação e vivencia da
Palavra de Deus e a formação continuada dos ministros e ministras da Palavra”
(97). O enfoque bíblico aproxima as comunidades da presença de Deus nos fatos,
na vida e na história. A bíblia é um livro leve e traz leveza para a dinâmica
da vida.
5. 4. Igreja: comunidade de
comunidades. “No interior da comunidade eclesial o diálogo é o caminho
permanente para uma boa convivência e aprofundamento da comunhão. Isso requer a
superação de um grande desafio para a pastoral e para a Igreja: educar para a
vivencia da unidade na diversidade, fundada no princípio de que todos somos
irmãos e iguais”! (96). Aqui se abre uma nova perspectiva e decisiva para o
hoje e o manhã da Igreja: valorizar a comunidade como a “célula inicial de
estruturação eclesial e foco de fé e evangelização”. Pois as comunidades
permitem o conhecimento e a vivencia da Palavra de Deus, e o compromisso social
em nome do evangelho. Documento de Aparecida insiste que “as paróquias são
células vivas da Igreja e lugar privilegiado no qual a maioria dos fiéis tem
experiência concreta de Cristo e a comunhão eclesial” (100). Igreja comunidade
sinaliza para as assembléias e conselhos pastorais como nova dinâmica das
relações e do serviço aos irmãos.
5. 5. Igreja: a serviço da vida plena para todos. Os tempos atuais
esperam da nossa presença nas cidades, na sociedade e no campo com uma
identidade: o serviço aos irmãos para que todos tenham vida plena. “Isto exige
de todo cristão assumir atitudes, não apenas no que se refere ao anúncio
imprescindível do valor da vida, mas também através de práticas que ajudam a
vida a desabrochar e florescer em toda sua plenitude” (106). Neste novo milênio
o serviço prestado à vida, á dignidade humana, aos dramas do abandono, ao
perigo das drogas, da violência, do abuso sexual, da superação das desigualdades
sociais requer da pastoral o permanente braço estendido (109-120). Pastoral que
ajude a responder às necessidades e ansiedades.
6. Objetivo claro da Pastoral fundamentada na Palavra.
Quais as experiências pessoais e comunitárias que nos oferece a Bíblia?
No Antigo Testamento e no Novo Testamento a presença de Deus ultrapassa o
templo e a liturgia. Deus diz ‘eu nunca te abandonarei’ (Is 44,21; Is 49,15).
Deus é o ‘bom samaritano’ (Lc 10,1s). Deus quer a convivência humana e a não
submissão. Ele é Pai e resgata a dignidade de filhos/as e capacidade de
irmãos/irmãos (Lc 15,11-32). Ele quer renovar todas as coisas e dá garantia de
fruto (Jo 15,5): Ressurreição e recapitulação em Cristo.
Essas são as experiências fundamentais a serem vividas pelos cristãos
e passadas-testemunhadas a todos os homens e mulheres, para que encontrem a
alegria da salvação. Para que isto aconteça é preciso:
§ Formação
de animadores bíblicos e de equipes diocesanas e paroquiais de animação bíblica
da pastoral.
§ Formação
bíblica para presbíteros, religiosos e religiosas, catequistas, ministros da
palavra, coordenações das pastorais e movimentos eclesiais.
§ Emprego
de meios de comunicação para divulgar o
pensamento bíblico em forma sistemática, atraente e pedagógica.
§
Uma pastoral que faça a experiência de
Igreja-comunidade de irmãos que se amam, que vivem os conflitos diários na
sociedade, na família, mas que se querem bem.
A Constituição Dogmática conciliar Gaudium et Spes conclama: “As
alegrias e esperanças, as tristezas e as
angústias dois homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos que sofrem, são
também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos
de Cristo” (LG 1,1). A Gaudium et Spes intui a realidade dos homens e mulheres
concretos que vivem no campo, nas favelas, nas periferias, nos prédios e nos
aglomerados urbanos. São estes homens e mulheres que a pastoral necessita
atingir através de sua ação.
O jeito de ser Igreja no hoje e amanhã sinaliza para ações a serviço
das pessoas e atenta aos desafios novos
que estão acontecendo. Como resposta a esses desafios propor uma pastoral que
molde a vida como o estilo de Jesus. Isto requer a passagem de uma pastoral
teórica para pastoral concreta, ações junto onde estão as pessoas nas suas
diversas situações. Aí ajudar a compreender e situar no mundo atual, a fazer a
experiência de fé. Isto requer acolhida, capacidade e abrir horizontes aos
problemas existências, sociais e religiosos.
O congresso “Católicos em Células”,
(realizado de 21 a
24 de junho de 2011 em São José dos Campos, SP) com o tema “Ser e fazer
discípulos”, propôs evidenciar a importância do discipulado dentro dessa obra
de renovação eclesial, apresentando meta primária da ação evangelizadora: fazer
discípulos (cf. Mt 28, 19), e como caminho seguro de formação missionária, pois
“sem consolidação e discipulado não podemos contar com bons evangelizadores”.
Entre o ato de evangelizar e enviar
missionários/as está o discipulado, que incorpora as pessoas na Igreja,
levando-as à vivência comunitária, além de equipá-las para o cumprimento de sua
tarefa cristã no mundo e garantir à Igreja não somente lançar-se, mas
conservar-se em crescimento na missão.
7. Indicações
pastorais
As reflexões, debates, sugestões
propostas por esse 1º Congresso Brasileiro de Animação Bíblica da Pastoral
certamente irão proporcionar material para a continuidade da reflexão. As
propostas assumidas deverão ser traduzidas em projetos, programas e
operacionalizações. Trazer a Palavra de Deus como centralidade da missão e da
ação evangelizadora e pastoral é caminho para o hoje e amanhã. Mas não há tempo
para perder. A palavra é veloz e tem seu curso, por isso nossa ação
pastoral ajuda a Palavra de Deus cair em
terra fértil.
Os desafios apontam para a pastoral em
que as pessoas se reúnem porque acreditam no Deus da vida, que chama, consagra
e envia em missão.
Acreditam na força do amor de Jesus Cristo que congrega a
comunidade para fazer a experiência do encontro com Jesus Cristo, a inserção
numa comunidade e o serviço prestado à sociedade especialmente no resgate da
dignidade humana, a ética e a solidariedade.
Pastoral que move as pessoas para a capacidade de buscar crescer e que
acredita no valor das comunidades e grupos articulados para conquistar seus
direitos animados pela graça do Espírito Santo.
Pastoral que credita que o Deus dos pequenos tem o rosto dos
excluídos, desamparados, esquecidos (Mt 25, 31-46) a quem somos enviados a
enxugar o pranto, curar as feridas, estender a mão amiga, animados pelo ideal
de seguir Jesus Cristo. “Se a realidade é de transição, do movimento, da
diversidade, tendo como referencia o individual, a pastoral precisa ajudar o
ser humano a conviver, partilhar experiências, compreensões, linguagens,
decisões comuns, pois todo ser humano necessidade de pertença, de efetivas
experiências comunitárias que se expressam no acolhimento, afeto, ajuda mútua”
.
Neste mundo de mudança, de “desestruturação subjetiva”
temos à luz do Evangelho uma missão no mundo: Missão de reconstruir as pessoas
na sua dignidade. Neste tempo em que as relações próximas foram trocadas pelo
anonimato, com nossa simplicidade somos chamados a escutar, sentar e caminhar
juntos. Neste tempo das tecnologias, somos chamados a cultivar a qualidade de
vida. Neste tempo de transitoriedade somos chamados à solidez da Palavra de
Deus. Neste tempo de busca de felicidade e de liberdade indicar a Palavra de
Deus como caminho que liberta e dá vida (cf Jo 8,38).
Neste tempo das “relações líquidas”
,
de ofertas de possibilidades que leva a uma indecisão, a pastoral precisa
ajudar as pessoas a fazerem a experiência da beleza da fé, da presença viva de
Jesus Cristo que revela o amor do Pai e que nos chama pelo batismo para a
missão de anunciar o Reino.
“Portanto esta Sagrada Tradição e Sagrada Escritura de ambos os
testamentos são como o espelho e em
que a Igreja peregrinante na terra contempla
a Deus, de quem tudo recebe, até que chegue vê-lo face a face como é” (DV
7).
Dom Juventino
Kestering
Bispo em
Rondonópolis, MT
juvake@terra.com.br